Sansão sabia que sua vida era consagrada a Deus desde seu nascimento (Jz 16:17), ele sabia que Deus tinha um propósito para sua vida e também entendia que a aliança que Deus havia feito com ele e, inicialmente com seus pais, era condicional e exigia obediência de sua parte (Jz 13:7).
Leia novamente a repreensão de Manoá e sua esposa, pais de Sansão: "Não há, porventura, mulher entre as filhas de teus irmãos, nem entre todo o meu povo, para que tu vás tomar mulher dos filisteus, daqueles incircuncisos? (Jz 14:3). Os pais conheciam o mandamento de Deus acerca do casamento com pessoas que rejeitavam adorar ao único Deus verdadeiro e se Sansão foi repreendido por estar agindo em contrário à vontade de Deus é porque havia sido instruído anteriormente sobre o assunto. A instrução que Sansão recebeu sobre o casamento foi esta:
"Quando o SENHOR, teu Deus, te tiver introduzido na terra, a qual passas a possuir, e tiver lançado fora muitas nações de diante de ti, [...] e o SENHOR, teu Deus, as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas concerto, nem terás piedade delas; nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos e não tomarás suas filhas para teus filhos" (Deuteronômio 7:1-3)
A ordem de Deus era clara e seu objetivo também: preservar Seu povo da idolatria as nações que habitavam ao redor de Israel afim de que o verdadeiro culto fosse preservado por todas as gerações. Tanto que Sansão entendia que não deveria se casar com nenhuma mulher das nações que rejeitavam o único Deus verdadeiro que tentou se auto-justificar dizendo: "só desta me agrado" (Jz 14:3). Ao invés de fazer tudo para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31), Sansão estava procurando satisfazer os desejos da carne, os seus próprios desejos. Até aqui tudo bem! Contudo, a narrativa recebe um outro rumo quando lemos o verso 4. Veja:
"Mas seu pai e sua mãe não sabiam que isto vinha do SENHOR, pois este procurava ocasião contra os filisteus; porquanto, naquele tempo, os filisteus dominavam sobre Israel." (Juízes 14:4)
Então, o casamento de Sansão com a moça filisteia que violava o concerto de Deus para Seu povo na terra prometida (Deuteronômio 7:1-3) vinha do SENHOR? Vale ressaltar que a palavra "SENHOR" neste verso, no original hebraico é Yahweh, o nome santo de Deus. Mas a Bíblia não diz que o SENHOR [literalmente Yahweh] não muda em Malaquias 3:6?
ESCLARECENDO O "CONTRADITÓRIO"
A Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico-Grego, da editora Casa Publicadora Assembleia de Deus, sobre Juízes 14:4 comenta:
"Os casamentos israelitas com pessoas de outras raças eram proibidos (Dt 7:3). Os pais de Sansão estavam certos em opor-se ao seu casamento com uma mulher pagã, do povo filisteu, que constantemente oprimia Israel. Não se deve entender, aqui, que Deus tivesse forçado Sansão a este casamento, mas que ele tomou a sua própria decisão. Embora isto não fosse correto, o Senhor usou isto para cumprir a Sua vontade, apesar da falta de sabedoria por parte de Sansão. Este provou a ser o elo crucial na libertação de Israel dos filisteus (Jz 15:1-8)." (p. 299)
Outro detalhe interessante que a mesma Bíblia apresenta logo no início do verso 4 é que a palavra "vinha" está em itálico (observe no texto acima novamente). O que isto significa? De acordo com os editores: 
"Itálicos são usados no texto para indicar palavras que não constam nos textos originais hebraico, aramaico ou grego, mas estão implícitas nele."
Ou seja, não podemos afirmar que isto "vinha de Yahweh" com objetivo de colocar Deus como a causa do interesse de Sansão pela moça filisteia. A causa, o verso anterior deixa claro nas palavras do próprio Sansão: "só desta [moça filisteia] me agrado" (Jz 14:3).

O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, sobre Juízes 14:4 complementa:
"Mesmo nesse lamentável casamento Deus prevalecia sobre o curso dos eventos para o avanço de Seus desígnios. Ele faz com que mesmo a fraqueza e o mau julgamento das pessoas redundem para Seu louvor." (v. 2, p. 404)
O verso 4 diz que Deus "procurava ocasião contra os filisteus".
"Literalmente, Deus procurava 'um encontro', isto é, talvez uma oportunidade para provocar hostilidades. Pode ser que, no tempo devido, Sansão tenha se esquecido de assumir a tarefa para a qual fora designado, e era necessário que algum evento o estimulasse a agir. Deus utilizou os incidentes ligamos ao casamento como a 'ocasião'." (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 2, p. 404)
Norman Geisler, apologista cristão e PhD em filosofia, em seu livro "Manual popular de dúvidas, enigmas e contradições da Bíblia", diz o seguinte sobre este episódio:
"Temos de entender que, embora Sansão tivesse sido dedicado por seus pais desde o nascimento para servir ao Senhor como nazireu, ele não tinha um compromisso integral com o Senhor. Sansão tornou-se uma pessoa obstinada e egoísta. Ele não era do tipo que se disporia a ir numa batalha contra os filisteus por razões de ordem espiritual [como fez Davi com Golias (1Sm 17:26)]. Consequentemente, para fazer com que ele se dispusesse a enfrentar os filisteus e propiciar assim a libertação de Israel, Deus fez uso dos interesses pessoais de Sansão para despertar a sua ira contra os filisteus. Às vezes, Deus usa homens ímpios para realizar seus bons propósitos."
Ellen G. White, assim resume a vida de Sansão:
"Houvesse Sansão obedecido às ordens divinas tão fielmente como fizeram seus pais, e seu destino teria sido mais nobre e mais feliz. Mas a associação com os idólatras o corrompeu. Achando-se a cidade de Zorá próxima do território dos filisteus, Sansão veio a travar relações amistosas com eles. Assim, em sua mocidade surgiram camaradagens cuja influência lhe obscureceu toda a vida. Uma jovem que habitava na cidade filisteia de Timna, conquistou as afeições de Sansão, e ele decidiu fazer dela sua esposa. [...] 
Exatamente quando entrava para a varonilidade, época em que deveria executar sua missão divina - tempo este em que mais do que em todos os outros deveria ser fiel a Deus - ligou-se Sansão aos inimigos de Israel. Não procurou saber se poderia melhor glorificar a Deus estando unido ao objeto de sua escolha, ou se se encontrava a colocar-se em posição em que não poderia cumprir o propósito a ser realizado pela sua vida. A todos os que em primeiro lugar procuram honrá-Lo, Deus prometeu sabedoria; mas não há promessa àqueles que se inclinam a agradar a si mesmos. 
Quantos não estão adotando a mesma conduta de Sansão! Quantas vezes se efetuam casamentos entre os que são tementes a Deus e os ímpios, porque a inclinação governa a escolha de marido ou mulher! As partes não pedem conselho de Deus, nem têm em vista a Sua glória. O cristianismo deve ter influência dominante na relação matrimonial; mas dá-se muitas vezes o caso de que os motivos que determinam esta união não se coadunam com os princípios cristãos. Satanás procura constantemente fortalecer o seu poder sobre o povo de Deus, induzindo-os a entrar em aliança com seus súditos; e a fim de realizar isto ele se esforça por despertar paixões impuras no coração. Mas o Senhor em Sua Palavra instruiu claramente Seu povo a não se unir àqueles nos quais não habita o amor para com Ele. "Que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?" (2Co 6:15 e 16). 
Em sua festa nupcial foi levado Sansão à associação familiar com os que odiavam ao Deus de Israel. Quem quer que voluntariamente entre para uma relação tal, sentirá a necessidade de se conformar até certo ponto com os hábitos e costumes de seus companheiros. O tempo assim despendido é mais que desperdiçado. Entretêm-se pensamentos e falam-se palavras que tendem a derribar as fortalezas dos princípios e enfraquecer a cidadela da alma. 
A esposa, para cuja obtenção Sansão transgredira o mandado de Deus [em Dt 7:1-3], mostrara-se traidora a seu esposo antes de encerrar-se a festa nupcial. Irado pela sua perfídia, Sansão abandonou-a por algum tempo, e foi sozinho para sua casa em Zorá. Quando, depois de acalmar-se, voltou em busca da esposa, encontrou-a como mulher de outro. Sua vingança, devastando todos os campos e vinhas dos filisteus, induziu-os a assassiná-la." (Patriarcas e Profetas, p. 562-563, ênfase acrescentada)

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